O Futebol Feminino e seu Enorme Potencial.

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Quando falo do futebol feminino, qual a primeira coisa que vem na sua cabeça?

Na minha vem uma modalidade com enorme potencial. Vem o pensamento que se pararmos para entender um pouco mais sobre as peculiaridades do futebol feminino, iremos realmente apreciar como deveríamos. Quais seriam as características que eu falo?

Primeiro devemos entender um pouco da evolução do futebol feminino no Brasil. O primeiro jogo de futebol jogado por mulheres não foi documentado. Alguns dizem que foi lá em 1913 em um jogo entre o Cantareira e Tremembé, ambos bairros da cidade de São Paulo. Outros dizem que pode ter sido nos anos 40 em um jogo no Pacaembú entre paulistas e cariocas, na verdade entre o São Paulo Futebol Clube e o América Futebol Clube. Há ainda alguns que dizem que foi na praia do Leblon em 1959. 

De qualquer maneira, as mulheres sempre buscaram seu espaço no esporte mas encontraram bastante resistência. O movimento mais forte contra o futebol feminino ocorreu em  1940 quando o jornalista José Fuzera escreve uma carta ao presidente Getúlio Vargas onde descrevia os vários núcleos de futebol feminino em todo o Brasil e como, de acordo com ele, esses núcleos eram, “destroçadores da saúde de 2200 futuras mães”. 

Essa carta chegou à divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde e a divisão manifestou seu apoio a Fuzera e a proibição da prática de futebol por mulheres no Brasil. Outro apoiador da proibição da prática do futebol por mulheres foi Dr. Leite de Castro, considerado um dos primeiros médicos esportistas no Brasil, em um artigo na Gazeta Esportiva onde diz “alterações gerais para a própria fisiologia delicada da mulher”. Infelizmente, a lei que “defendia a feminilidade da mulher” foi assinada em 1941 pelo então presidente Getúlio Vargas e foi extinta apenas em 1979.   

Esporte Clube Radar do Rio de Janeiro.

A volta do futebol feminino veio com tudo nos anos 80 e o Esporte Clube Radar do Rio de Janeiro foi um dos pioneiros. Como ainda não havia uma seleção feminina oficial nessa época, o Radar representou o Brasil no I Torneio Internacional de Futebol Feminino e conquistou um respeitoso 3 lugar. 

O grande divisor de águas para o futebol feminino no Brasil foi a inclusão da categoria nas Olimpíadas de Atlanta em 1996. Mesmo com todas as dificuldades históricas, o Brasil chegou ao 4o lugar.

Hoje, o futebol feminino conta com campeonatos importantes para o seu calendário. O mais importante para clubes do continente é a Copa Libertadores Feminino. A edição de 2020 (na verdade disputada em março de 2021 onde a Ferroviária foi campeã) foi a 11a edição do torneio e contou com 16 equipes da CONMEBOL. As equipes classificadas para edição eram as campeãs e as vices do Brasil, Chile, Colômbia e Paraguai, além das campeãs dos outros países do continente. Há também duas vagas da entidade, destinadas à campeã da última edição e uma vaga para um time do país sede.

Ferroviária, de Araraquara, foi campeã da Libertadores Feminina de 2020.

Outra competição importante para o futebol feminino no Brasil é o Brasileirão Feminino. A primeira edição foi apenas em 2013 mas vem crescendo desde então. Nos primeiros anos, 20 times disputaram e eles foram escolhidos de acordo com um ranking. Em 2017, o número de times caiu para 16 e foi criada uma segunda divisão com acesso e rebaixamento. O campeonato tem crescido de forma exponencial nesses últimos anos, tanto com apoio de patrocinadores como com transmissão na televisão, como ESPN na tv fechada e Band na tv aberta.

  Entidades como a FIFA, a CBF e a CONMEBOL estão tomando medidas para desenvolver o futebol feminino no mundo inteiro. Entre as principais ações está a obrigatoriedade de ter um time feminino profissional para poder participar dos principais torneios masculinos.

Corinthians em jogo pelo Brasileirão A1 Feminino 2020.

A evolução do futebol feminino tem sido mais do que simplesmente técnico, é uma evolução também de mercado e de aceitação social. Alguns ainda não acreditam que a mulher pode jogar futebol, que ela não entende e mesmo quando ela fala que gosta que entende ela precisa ou provar que entende mesmo ou que está fazendo isso para agradar algum homem.

A realidade é que o futebol feminino está crescendo de uma forma que pode ser muito importante para o esporte de uma maneira geral, principalmente no Brasil. Há uma oportunidade muito boa para inserir práticas profissionais e eficientes de gestão, reduzir ao máximo os vícios do mercado e começar um negócio do zero sem as influências negativas que já existem no futebol masculino.

Essa mudança está acontecendo no topo da pirâmide, pois o futebol feminino da CBF é gerenciado e comandado por mulheres, e mulheres bem qualificadas para a sua função. Elas nos dão a esperança que estamos no caminho correto para nos tornarmos uma potência ainda maior do esporte.

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