O ano de 2020 foi uma desgraça? Foi. Foi um ano de ter que quebrar a cabeça e fazer tudo o que podia para tentar se manter? Foi também. 2020 é um ano para ser esquecido? Nesse ponto eu falo não.
Veja, muitas vezes, aprendemos mais e crescemos quando os tempos são difíceis. Eu sei que é um pouco cliché mas a frase é verdadeira: “Aqueles que não conhecem a história estão condenados a repeti-la”. Por isso esse ano deve ser de aprendizados com um forte impacto estrutural no esporte.
2020 nos trouxe situações que jamais poderíamos imaginar e não tínhamos noção de como enfrentá-las. Pode até ter sido bom para alguns, mas com certeza prejudicou muitos. O mundo do esporte não é diferente no sentido que teve que navegar por águas misteriosas sem um mapa e sem uma bússola, teve que aprender no caminho.
Alguns podem argumentar que o esporte e os atletas são considerados trabalhadores essenciais, não porque chutar e arremessar uma bola vão salvar aqueles que estão precisando de tratamento médico, mas por dar uma um pouco de esperança e alívio ao público nesse momento que é um dos mais complicados da história recente.
Bom, dado que ainda podemos tirar proveito de uma situação péssima, o que aprendemos e o que podemos levar para esse nosso ano que começa agora?
Uma das lições mais importantes é que 2021 é um ano para sermos flexíveis e que as coisas podem acontecer a qualquer momento. As Olimpíadas estão marcadas para esse meio de ano mas ainda não temos muita certeza se realmente ela vai acontecer e como ela pode acontecer. O COI e as autoridades locais podem afirmar que o evento será sem público, ou que poderá ter somente 20, 30, 40, 50% do público, ainda não sabemos. O que sabemos é que essa Olimpíada será única.
Outros campeonatos também terão que se adaptar e saber que eles podem não ocorrer como estão planejados. Muitas competições vão acontecer uma em cima da outra, então também será um ano que o desempenho do atleta será mais baixo que o normal.
Lições para 2021:
O poder da internet
Uma das principais lições é que a internet e a tecnologia serão cada vez mais importantes para o esporte. Os clubes perderam o contato “face to face” com o torcedor por causa dos portões fechados, logo, perderam um dos principais meios de comunicação. No Brasil, a migração para o mundo digital precisa acontecer de uma forma acelerada se não pode perder para clubes europeus.
O que observamos nestes últimos anos, principalmente em 2020, foi a grande movimentação da televisão na relação dela com o esporte. Quando poderíamos imaginar que não haveria mais nem Libertadores e nem Fórmula 1 na Globo, era algo quase impossível. Mas o fato é que hoje a Fórmula 1 ainda não tem uma televisão no Brasil e a Conmebol fechou com a SBT na TV aberta para a transmissão da Copa Libertadores.
Isso pode indicar um movimento onde os torneios não irão se limitar a apenas uma televisão ou site. Poderemos ter mais opções em o que ver e o quanto queremos ver. Aqui no Brasil, o NBB já possui um esquema de transmissão com uma série de canais, tanto na televisão tradicional como a ESPN e a Cultura como também possui contrato com o DAZN para o streaming e canais próprios tipo o Facebook e Twitter da própria liga.
Multiplataformas
Mas como será então que estes clubes ou ligas podem firmar acordos multi canais sem criar uma bagunça na cabeça do telespectador? Bom, a melhor maneira de fazer isso é com a criação de conteúdos próprios e até mesmo a produção própria de jogos. Quando vemos a Premier League pela ESPN Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo ela tem sempre a mesma “cara” e isso não é por acaso. A liga que faz toda a geração de seu conteúdo e distribui para seus parceiros, criando assim uma identidade visual única e consequentemente aumentando sua percepção de valor.
Isso é muito bom durante a temporada e quando temos os jogos ao vivo. Mas, levando em consideração o que aprendemos em 2020, temos que considerar o que gerar de conteúdo quando o time não entra em campo. Aqui entram os conteúdos extras como documentários.
Nesse ponto, o Barcelona está na frente da maioria dos clubes pois tem o seu próprio estúdio e ele já consegue manter um faturamento milionário. Hoje em dia, a Amazon (por exemplo) é uma grande parceira do esporte com a série All or Nothing (Tudo ou Nada em português) que tem episódios com o Tottenham, o Manchester City e até mesmo a seleção brasileira. Isso mostra que os clubes devem se preocupar em produzir um conteúdo que vai além do ao vivo, conteúdos de entretenimento também são necessários.
Redes Sociais
O ano de 2021 também será marcado pelo uso cada vez mais intenso das redes sociais. Ela será uma ferramenta importante para o esporte e para os clubes de uma maneira geral. Isso acontece pois será a melhor e mais eficiente forma de comunicação entre os clubes e os torcedores e poderá ajudar o clube a conhecer cada vez mais os seus fãs.
Legal você fala, mas será que é conhecer só por conhecer mesmo? Não. O clube precisa conhecer bem quem é o seu público para assim poder conversar de maneira certeira com os seus atuais e futuros patrocinadores. Quando o clube entender o padrão de consumo do seu torcedor, ele pode descobrir oportunidades que nunca tenha imaginado.
As redes sociais não vão ser uma ferramenta de uso exclusivo do clube. Ela será também um aspecto importante para o atleta. Ela pode ajudar ou prejudicar o atleta de várias maneiras, pois até mesmo as ações que parecem inofensivas na hora, podem ter grandes repercussões. Uma curtida em uma imagem polêmica pode fazer com que o atleta perca contratos de patrocínios, então, todo cuidado será pouco quando se trata das redes sociais.
Claro que não será tudo ruim. A tendência é que os atletas fecham cada vez mais contratos de patrocínio que envolvem o uso de redes sociais. Esses contratos podem ou não envolver o clube e assim dão mais liberdade ao atleta. Levando em conta essa autonomia maior que o atleta terá sobre seus próprios patrocínios, a imagem dele vai ser cada vez mais importante na hora de fazer o contrato com o clube.
Eles podem olhar a página de um atleta e assim julgar se eles são ou não um bom encaixe no time. Um caso hoje que podemos ilustrar a importância das redes para os atletas é o fato que o perfil oficial do Cristiano Ronaldo é o mais seguido do Instagram (com cerca de 250 milhões de seguidores).
Esporte vs. Calendário
Um dos desafios específicos de 2021 será o calendário completamente maluco. Basicamente, teremos as Olimpíadas e as competições internacionais de seleções ao mesmo tempo para muitos esportes. Teremos, por exemplo, a Copa América, a Eurocopa, a Volleyball Nations League e os Grand Slams de tênis em um espaço de tempo muito curto. Sem contar que o primeiro semestre será cheio de torneios classificatórios para Tóquio, o que pode prejudicar muito o desempenho esportivo dos atletas durante as Olimpíads.
Falando um pouco do caso específico do futebol Brasileiro, esse vai ser um deus nos acuda. Temos o exemplo do Palmeiras que pode ter que disputar um clássico contra o Corinthians, a final da Libertadores e o mundial de clubes da FIFA em um espaço de mais ou menos 15 dias. Depois dessa não vou nem dizer que será uma maratona mas sim uma odisséia considerando que ele ainda tem que voltar rápido e já disputar o campeonato Paulista sem férias nem pré temporada.
Eu mencionei o exemplo do Palmeiras pois ele terá um primeiro semestre muito puxado. Já o Brasileirão não vai parar por causa da Copa América nem pelas Olimpíadas, o que quer dizer que muitos clubes vão ficar cerca de um mês sem alguns de seus principais jogadores. Boa sorte a todos.
Causas Sociais
Por fim, 2021 vai ser um ano onde os atletas e os clubes irão fazer parte de campanhas e causas sociais. Não será o suficiente lançar notas de repúdio após o fato e não mostrar uma mudança de atitude como vinha acontecendo nos últimos anos. Vimos como isso não será mais aceito pelo público com o caso do Robinho no Santos.
O time paulistano fez campanhas contra violência contra a mulher em suas redes sociais e em campo, mas quando anunciou a volta do Robinho, o time teve uma enxurrada de críticas pois como pode fazer a campanha que fez e no momento que lhe era conveniente, contratar um jogador que era acusado de um crime contra uma mulher.
O Santos acabou desistindo da contratação depois das críticas em suas redes sociais e a perda de patrocinadores. Os atletas e os clubes vão ser cada vez mais cobrados por ter uma posição clara e firme nas questões sociais. Atitudes como os atletas da NBA, que se recusaram a entrar em quadra e jogar depois da morte de mais uma pessoa negra nos Estados Unidos e dos jogadores do PSG e do Istanbul que abandonaram o campo depois de ouvir palavras racistas vindo da arbitragem, vão ser cada vez mais exigidos pelos fãs dos esportes.
Conclusão:
Essas são as minhas observações para o mundo do esporte para um 2021 completamente maluco que teremos à frente. Ele será um ano de muitas incertezas, onde as coisas podem mudar drasticamente de uma semana para outra. Vamos precisar sempre ficar de olho nas notícias pois poderemos ter mais adiamentos e cancelamentos durante o ano. Nem tudo é tragédia, porém, 2021 será um ano de novas possibilidades para quem conseguir aprender as lições de 2020.