Jogos Olímpicos Antigos: Quando homens buscam a perfeição dos deuses.

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Os gregos antigos nos deixaram uma herança que muitas vezes não percebemos. O nosso sistema democrático tem origens em cidades estados gregas antigas como Atenas e muito de nossas áreas de estudo, como astrofísica e filosofia tiveram sua origem nesta civilização que nos deixa tão intrigados até hoje. Mas um dos pontos que talvez não consideramos é a herança milenar dos Jogos Olímpicos.

Imagem representando a corrida nas Olimpíadas antigas

Até mesmo o nome possui uma relação muito forte com os deuses gregos. Na cidade de Olímpia, na base do Monte Olímpio havia um complexo enorme de templos e altares dedicado aos mais variados deuses e figuras mitológicas. Acreditavam que os deuses moravam no topo da montanha da cidade e assim era um dos lugares mais poderosos do mundo.

Foi neste ponto também que o grande herói da mitologia, Hércules, plantou uma oliveira em homenagem ao seu pai, Zeus, depois que ele completou o sexto de seus doze trabalhos.

Entendemos então a importância deste lugar para os gregos antigos e, como até hoje, cerca de 3000 anos depois, ainda usamos o seu nome e o seu local de origem como ponto inicial para todas as festividades do maior evento esportivo do mundo.

Mas como que começou de verdade? Bom, para ser bem honesta, o ponto de partida dos jogos não é muito conhecido. Ao longo do tempo, pessoas começaram a realizar eventos esportivos de forma independente, mas não mantinham um registro oficial, logo, não podemos dizer com toda a certeza qual foi a primeira vez que um evento esportivo foi disputado na Grécia.

O primeiro registro oficial veio no ano de 776 a.C., quando uma corrida de 192 metros rasos, chamada de stádium ou estádio, foi disputada na cidade de Olímpia.

Assim também temos o primeiro campeão, Coroebus de Elis, o primeiro homem mais rápido do mundo. Uma coisa que você pode estar se perguntando é: Porque 192 metros? Não é um número muito aleatório? Bom, não se você pensar como aqueles que viviam naquela época, onde muito do que se acreditava tinha origem mitológica.
Os gregos antigos acreditavam que esta era a distância que Hércules podia correr com um único sopro, portanto foi usado como métrica para os homens comuns.

Com o passar dos anos, mais esportes e modalidades foram adicionados ao evento. Em 724 a.C. a corrida de dois estádios começa a ser disputada e em 708 a.C. eventos de lutas e de pentatlo começam a serem disputados.

O boxe (modalidade nos jogos até hoje) foi adicionado em 688 a.C. As olimpíadas começam a ficar mais emocionantes (pelo menos para os gregos antigos) em 648 a.C. pois é nesta edição que tem a inclusão da corrida de cavalos e do pancrácio.

No início, como não haviam tantos esportes ou eventos, tudo acontecia em um único dia, mas com a inclusão de cada vez mais esportes e cerimônias, tudo passou a durar 5 dias.

Mas como eram estes esportes antigos? Mencionei algumas das principais datas para o evento da antiguidade, mas como que conseguiram capturar a imaginação de tantas pessoas e porque que os organizadores construíram estruturas que em seu auge pôde receber cerca de 40.000 pessoas?

AS MODALIDADES


CORRIDAS – Bom, como falei, o primeiro evento/prova/esporte das Olimpíadas foi a corrida. Esta modalidade também foi a única que esteve presente em todas as edições. Como muito que vamos ver nos esportes antigos, este não era lá dos mais seguros. Naquela época não havia a separação da pista em raias, todos brigavam para se posicionar na parte interna da pista e ter uma maior vantagem e todos corriam
descalços e sem roupas.

Vaso Grego antigo representando a corrida

LUTA GREGA – As lutas antigas tinham as suas origens na mitologia. A luta grega (hoje chamado de luta-livre em português ou wrestling em inglês) era conhecida por representar e homenagear a força do semideus e herói da nossa história, o Hércules. Este era o esporte mais popular de sua época, algo um pouco como o futebol é hoje.
Mas como funcionava?
Os adversários eram determinados via sorteio, sem classificação de peso e não tinham tempo determinado para acabar. A luta basicamente acabava de duas maneiras: com um dos atletas desistindo (ou porque estava sem ar, porque estava machucado ou até mesmo porque estava com medo) ou quando um dos concorrentes alcançava 3 pontos.
O ponto era conquistado de 3 maneiras: 1) quando o adversário toca as costas no chão 2) quando o adversário dá um sinal claro que desistiu do combate e 3) quando ele toca o chão fora da área de combate (chamado skamma). Aquele que ganhava todas as suas lutas, em um esquema um pouco como o “mata-mata”, era declarado o campeão.

Painel retratando uma luta

BOXE – Ainda na categoria das lutas temos o boxe ou pugilato. Este esporte, embora pareça violento, na verdade pregava muito respeito ao adversário e às regras (e continua com esses ensinamentos até hoje). Assim como na luta grega, não havia separação por peso nem tempo estabelecido para acabar. Os adversários eram determinados por sorteio.

Os atletas tinham estilos diferentes, até mesmo por causa de sua estatura. A tendência era que os atletas mais baixos e leves eram mais rápidos enquanto aqueles maiores e mais pesados desenvolviam mais a sua força. Quando numa luta, estilos diferentes se confrontavam perdia o apelo ao público.

O fato dos lutadores terem estilos diferentes não significava que um era melhor que outro. Diferentes campeões podiam ter maneiras completamente contrários de luta e, mesmo assim deixarem seu nome na história. De um lado temos o Diagoras de Rodes, um dos pugilistas mais famosos de sua época e o homem que lançou uma dinastia olímpica (seu filho e neto também foram campeões, um pouco como a família Manning na NFL).
Diziam que ele jamais desviava de um golpe e esperava o momento certo para atacar o seu adversário, algo como fazia Muhammad Ali, mas sem se proteger. Foi desta maneira que ele conseguiu deixar o seu nome da história do esporte.
Por outro lado, temos o Melancomas de Cária. Este pugilista foi campeão olímpico sem aplicar um golpe sequer. Ele passava a sua luta inteira desviando e se protegendo dos golpes dos adversários e como não havia limite de tempo nas lutas da época, ele tinha mais resistência física que qualquer um e assim fazia seu concorrente desistir.

Pintura de dois pugilistas

PANCRÁCIO – Agora chegamos em uma luta onde a coisa começa a pegar de verdade, o Pancrácio. Como muito do que vimos até agora, esta luta tem sua inspiração em um herói mitológico e se você pensou no Hércules……errou. Esta luta foi inspirada em Teseu, quando ele enfrentou o terrível Minotauro no labirinto em Creta.
O pancrácio tinha apenas duas regras. A primeira era: Não fale sobre o pancrácio…brincadeira! A primeira regra de verdade é que não podia morder o adversário a segunda é que não pode o dedo no olho. Só. Você quer arranhar, pode. Você quer chutar, pode também. Quer bater no adversário no chão, pode também. A luta basicamente só acabava quando o árbitro determina ou quando um dos atletas desistia colocando o dedo indicador para cima. Tudo isso claro sem proteção.

Estátua em bronze

CORRIDAS EQUESTRES – Por fim, temos aquele que nos intriga e emociona até hoje, a corrida com cavalos! Este esporte precisa de uma sintonia absurda entre homem e cavalo. Havia uma categoria na época mais parecida com a corrida que conhecemos hoje e por um tempo, tinha até mesmo uma corrida com mulas. Mas a modalidade que levava mais gente à loucura eram as corridas de bigas (com 2 cavalos) e de quadrigas (com 4 cavalos). As corridas com 4 cavalos eram consideradas as mais prestigiosas da época.

De uma maneira geral, os eventos olímpicos eram sobre os atletas e de suas
conquistas de suas próprias forças. Neste esporte, não bastava o participante ter controle sobre si, precisava também fazer com que os cavalos seguissem o seu comando. Depois de todo o esforço e um pouco de reconhecimento, quem recebia a coroa de campeão eram os donos dos cavalos.

Esta regra onde os donos recebiam os prêmios abria caminho para algo que os organizadores não queriam, a participação de mulheres nos eventos. Mas nem eles conseguiram impedir a participação de uma das mulheres mais influentes da história das olimpíadas, a princesa Cinisca de Esparta, dona de vários cavalos campeões.

Imagem de um cavaleiro de bigas

Os jogos duraram até depois da conquista da Grécia pelos Romanos, que também entenderam a sua importância sobre o povo e tentou até uma edição em Roma, sem muito sucesso. Aos poucos, porém foram perdendo a sua essência, pois sobe o domínio Romano os jogos se tornaram algo mais como um espetáculo com o foco no público e não tanto na performance do atleta como valorizado pelos Gregos.

Mas porque devemos entender essa história? Algo que aconteceu há mais de dois mil anos com certeza não nos afetaria em pleno 2020, certo? Acho que é muito importante saber como chegamos ao momento que estamos para também entender para onde vamos. Podemos entender a razão pelo qual a cerimônia de abertura é sempre nas ruínas da cidade de Olímpia e como na verdade a essência dos jogos não mudou muito nesses mais de 3000 anos.

Linha do tempo com principais eventos olímpicos antigos

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