The Playbook – Estratégias para Vencer: vale a pena?

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Quem gosta de esportes não se limita apenas a ver os jogos ao vivo. Nós acompanhamos as mesas redondas, as discussões e os debates depois das partidas. Gostamos também de outras coisas com a temática de esportes como filmes e livros. Recentemente eu vi uma série na Netflix e gostaria de dividir com vocês o que eu achei.

Ela se chama The Playbook – Estratégias para vencer. Nessa série, 5 dos melhores técnicos do mundo são convidados para dividirem as suas experiências como líderes de suas equipes e quais são as suas regras para a vida e suas estratégias para vencer. 

Imagem da arte da série The Playbook – Estratégias para Vencer da Netflix.

Episódio 1 – Doc Rivers

A série abre com o hoje técnico do Philadelphia 76ers e ex-jogador da NBA, Doc Rivers. Como jogador, ele passou 7 anos no Atlanta Hawks e depois teve passagens pelo Los Angeles Clippers e New York Knicks antes de se aposentar do San Antonio Spurs. 

Como técnico, começou a carreira no Orlando Magic, depois foi para o Boston Celtics, Los Angeles Clippers e Philadelphia 76ers. O seu episódio é mais focado na sua passagem pelo Boston Celtics pois foi com esse time que ele foi campeão em 2008, depois de uma seca de 13 anos. 

Os episódios são baseados em relatos que se encaixam para cada regra (não vou falar de todas as regras pois acho que tem que assistir) e nessa história do Doc Rivers tem duas que para mim se sobressaíram.

Doc Rivers comanda o Boston Celtics para um título da NBA.

A primeira delas foi um caso muito público que aconteceu quando ele estava trabalhando no Los Angeles Clippers. Em 2014, gravações de áudio do dono do time foram vazadas evidenciando seus pensamentos de cunho racistas. Essa foi uma época difícil para o técnico e sua equipe, pois como eles podiam continuar representando uma franquia onde o dono não os queriam lá?

Foi com base nesse depoimento de um tempo difícil que Doc Rivers nos revelou uma fala de seu pai: Nunca seja uma vítima. Ele pensou em vários cenários diferentes e o que o time iria fazer. Veja, quando os áudios foram divulgados na imprensa, os Clippers estavam na primeira rodada dos playoffs depois de uma temporada regular incrível.

Doc Rivers em um jogo do Los Angeles Clippers.

Doc e os jogadores sabiam que eles precisavam fazer alguma coisa e uma das ideias mais cogitadas era de abandonar a partida contra o Golden State Warriors. Eles perceberam, porém, que se fossem por esse caminho, os maiores prejudicados seriam eles mesmos e não quem eles realmente queriam atingir. 

No final, deixaram as suas camisetas de aquecimento no centro da quadra e viraram outra que tinham do avesso, tudo para não mostrar o logo da equipe. Assim, mostraram como uma equipe que não estava de acordo com aquilo que o dono da equipe representava e que estavam lá fortes e unidos. 

Doc Rivers comanda o Boston Celtics.

Outro caso que me chamou atenção foi quando ele falou sobre Ubuntu. Ele ouviu essa palavra pela primeira vez quando estava no Boston Celtics e não sabia absolutamente nada sobre ela. Quando foi procurar mais informações sobre Ubuntu percebeu como faz sentido e como se encaixava para o seu time. Desmond Tutu, o líder negro da Africa do Sul definiu Ubuntu como a essência do que é ser humano e Doc Rivers realmente incorporou isso no time. 

Episódio 2 – Jill Ellis 

Jill Ellis é uma pioneira no esporte. Ela nasceu na Inglaterra e acompanhava o seu pai quando dava treinos para os meninos. Ela queria ser jogadora de futebol, mas, não tinha muitas oportunidades em seu país. Quando estava no começo de sua adolescência, seu pai recebeu um convite para ser técnico no Estados Unidos e assim deu a oportunidade para a sua filha seguir seu sonho. 

Em território americano, Jill jogou pela sua escola e faculdade, sendo considerada uma das melhores jogadoras do time. Sua carreira como jogadora não foi muito longe, mas ela percebeu que sua verdadeira paixão era o futebol e assim largou um bom emprego na área administrativa para ser técnica de uma universidade no estado americano de Maryland. 

Jill Ellis comemora a conquista da Copa do Mundo Feminina da FIFA, em 2019, na França.

Por causa de seus trabalhos de destaque em universidades menores, ela foi contratada como técnica na UCLA onde ganhou incríveis 8 títulos da NCAA (o campeonato universitário), sendo 7 seguidos. Todo o seu sucesso chamou a atenção da USWNT (United States Women’s National Team)que contratou Jill Ellis para ser a técnica da seleção de base. Depois de alguns anos e boas vitórias na base, ela assumiu um cargo como uma espécie de gerente de futebol da seleção feminina e aos poucos sua influência foi crescendo. 

Em 2014, ela assumiu como técnica da seleção americana feminina. Nesse ponto, a seleção americana já era uma das melhores do mundo, então a pressão para ela manter essa posição era grande. Jill, porém, não desapontou e em 2015 foi campeã da Copa do Mundo da FIFA (o terceiro título do Estados Unidos). 

O ano seguinte não foi dos melhores em termos de resultados. Apesar de ir muito bem nos torneios de classificação para as Olimpíadas do Rio 2016, os jogos em si se mostraram difíceis para a técnica, muito acostumada a vencer. Foi nesse ponto do episódio  que ela apresentou uma de suas regras mais importantes: segure firme e se mantenha no caminho. 

Jill Ellis comanda a seleção do Estados Unidos.

Ela explica que tirou essa frase dos SEALS, a força de operações especiais da marinha americana. Ela nos conta que quando há uma tempestade no mar, uma das primeiras coisas que se deve fazer é se segurar bem a uma parte fixa do deque do navio,para que você não seja levado pelo mar. A segunda parte da frase fala mais sobre quem dirige a embarcação e como mesmo sem os aparelhos e sem poder ver as estrelas para navegar, deve se manter em seu curso. 

Sendo assim, ela tinha um plano para ajustar a seleção da maneira que acreditava ser a melhor. Aos poucos, ela entendeu que precisava mudar a disposição tática das jogadoras e que teria que chamar atletas que podiam fazer as novas funções. Foi um momento de transição difícil, mas quando o time se encaixou os resultados não demoraram para chegar. Em 2019, o Estados Unidos foi novamente campeão da Copa do Mundo, chegando ao seu tetracampeonato e o segundo seguido para Jill Ellis. 

Esse episódio também é um pouco mais íntimo do que aquele que vimos com o Doc Rivers. Ela menciona como ela queria deixar um legado positivo para a sua filha e fez algo que precisou de muita coragem. 

Jill Ellis passa comandos para as suas atletas.

Para que a sua filha visse que sua mãe não tinha vergonha de ser quem realmente era, Jill Ellis contou primeiro para suas atletas que ela era casada com uma mulher e que as duas tinham acabado de adotar uma filha. Ela recebeu muito apoio daqueles mais próximos a ela e adotou uma regra para a vida e para o campo: seja verdadeira com você mesma. 

Episódio 3 – José Mourinho

José Mourinho comemora um gol do Tottenham contra o Olympiacos (GRE) durante um jogo da UEFA Champions League.. (Foto por Tottenham Hotspur FC/Tottenham Hotspur FC via Getty Images)

Esse episódio é um prato cheio para aqueles amantes do futebol europeu. Acompanhamos o José Mourinho neste episoódio. Ele conta como ele sempre quis ser jogador de futebol como o seu pai mas que, pelas palavras dele mesmo, não tinha tanto talento para tal. Como não podia ser o melhor jogador do mundo, ele então resolveu que seria o melhor técnico do mundo. 

Ele começa a sua carreira como técnico mesmo (antes foi assistente) no Porto, de Portugal. Era um momento de crise para o time e Mourinho viu que eles estavam perdendo aquilo que era o mais importante, a sua essência. De acordo com o técnico, o time do Porto sempre foi um time muito guerreiro e com muita raça, algo que ele não via mais nos jogadores. 

Houve uma reformulação no time (onde claro, alguns jogadores saíram e outros chegaram) para que o time voltasse a ser aquilo com o que ele era mais identificado. Isso trouxe de volta a competitividade do time mas, mais importante, trouxe de volta os torcedores ao estádio. 

Com esse time com nomes um pouco desconhecidos mas com muita vontade de jogar e de lutar, ele conquistou a UEFA Champions League em 2004, eliminando times como Manchester United e Lyon. 

José Mourinho comemora o título da UEFA Champions League com o Porto.

A primeira regra que ele apresentou na série foi: conheça o seu público. Essa sensibilidade em entender como os torcedores do Porto gostavam de ver o seu time fez que ele organizasse seu time pensando neles, assim, resgatando o torcedor como elemento chave para o seu sucesso com o Porto.

José Mourinho já havia provado que ele tinha muito talento quando foi para a Inglaterra e comandou o Chelsea em seu primeiro campeonato nacional em 50 anos, mas esse título mostrou a todos que podia ter sucesso além das fronteiras de seu país natal. Após grandes conquistas como a Premier League e a Copa da Inglaterra, tanto Mourinho quanto o Chelsea viram que estava na hora de encerrar o trabalho. 

Uma das histórias que achei o mais interessantes foi uma onde ele, suspenso do vestiário do Chelsea em uma quarta de final da Champions contra o Bayern de Munique, arriscou ser banido do esporte de uma maneira geral, foi falar com os jogadores no vestiário, onde não podia. Ele sabia que seria um jogo muito difícil e sabia que se o resultado não fosse favorável no intervalo, seus jogadores iam precisar ouvir suas palavras. 

José Mourinho levanta novamente o troféu da UEFA Champions League, dessa vez com a Internazionale de Milão.

Essa história mostra quão dedicado ele é aos seus atletas e que, olhando de fora para dentro, ele parece ser uma pessoa bem difícil de trabalhar, mas ele vai defender seus comandados com unhas e dentes. Essa dedicação toda precisa ser uma via de duas mãos e ele espera que os jogadores também o entenda e o apoie quando ele os coloca em uma posição que não é a favorita deles.

Ele conta como, durante seu tempo de Real Madrid, ele tinha um jogo muito importante contra o Barcelona e tinha alguns dos melhores jogadores do mundo em seu time como, por exemplo (básico tá, nada demais não), o Cristiano Ronaldo. Nesse jogo, José Mourinho viu que o Barcelona jogava de maneira de maneira muito rápida com e sem a bola e que os laterais subiam bastante para atacar.

José Mourinho comando o Cristiano Ronaldo no Real Madrid.

Mourinho mudou o posicionamento de Cristiano Ronaldo em campo para atuar mais como um centroavante e não mais pelas laterais como ele gostava. Ele viu que, taticamente, seria melhor para o time o CR7 atuar nessa posição durante o jogo pois, se não, ele ficaria o jogo inteiro correndo atrás de Daniel Alves. 

Quando Ronaldo protestou, Mourinho lhe falou que era mais importante ele mudar sua posição no momento do que seu conforto, pois seria melhor para o time. Neste momento ele falou uma de suas regras que achei bem interessante, ele disse: não treine o atleta, treine o time. 

Episódio 4 – Patrick Mouratoglou

Aqui temos um técnico um pouco diferente dos outros nessa série pois ele é técnico do tênis. Como o tênis é um esporte individual, onde é proibido o técnico chamar a atenção dos atletas durante a partida, ele precisa preparar muito bem o psicológico daqueles que estão com ele. 

 Ele conta como em um dos primeiros treinos que teve com Serena Williams ele estava na quadra com sua equipe e ela chegou atrasada. Apesar de não ter gostado muito, ele olhou para ela e disse bom dia, mas ela não respondeu e mal olhou para ele. Depois de algum tempo onde ele falava e ela não notava sua presença, ele  chegou perto dela e lhe deu um tapa na viseira do boné e explicou que para treinar com ele haviam 3 regras a seguir: falar bom dia e chegar no horário. Ela ainda com uma cara um pouco assustada então pergunta qual a terceira regra (que ele na verdade nunca nos conta). 

Patrick Mouratoglou comanda Serena Williams.

Essa história nos mostra um exemplo de uma das regras que ele adota para a vida: não tenha medo de ser mandado embora. Se um técnico tiver medo de ser despedido, ele (ou ela) vão falar somente o que o atleta quer ouvir, o que não é bom para ninguém.

Ele também menciona como é claro que mesmo os melhores atletas e os melhores tenistas do mundo são humanos e que eles podem errar mas que isso não deve os definir como esportistas e como pessoas. Um exemplo claro para essa situação foi quando Serena Williams estava jogando a final do US Open contra Naomi Osaka e ela teve sua discussão acalorada com o árbitro e quebrou sua raquete em um ato de fúria. 

Patrick Mouratoglou durante um treino.

Depois de esfriar um pouco a cabeça e perceber que mesmo acreditando que seus argumentos estavam certos mas seus métodos podiam ser melhores, Serena perce Williams depois pediu para o público parar de vaiar Osaka e reconheceu toda a habilidade de sua adversária. 

Acho importante dar uma olhada nesse episódio pois não fala somente do jogo, fala como trabalhar o seu psicológico para aguentar situações de pressão e poder também tomar as melhores decisões em momentos de estresse. Ele conta como as vezes jogadores perderam de propósito pois simplesmente não acham que vale a pena tentar, e preferem realmente entregar a partida do que outras pessoas acharem que eles não têm talento o suficiente.

Isso mostra que nossa cabeça pode nos fazer tomar decisões que não fazem o menor sentido lógico por acreditar em coisas sem fundamento. Devemos sempre treinar para ter um pensamento mais lógico para uma determinada situação e que vamos errar, mas temos que aprender com erros e seguir em frente.

Episódio 5 – Dawn Staley

Dawn Staley comanda seu time.

Foi interessante ver esse episódio depois do Patrick Mouratoglou, pois ele fala como o técnico tem que trabalhar o psicológico do atleta, mas Dawn Staley fala como trabalhar seu próprio psicológico como técnico. 

Ela começa contando como era uma menina do sul da Philadelphia e que sempre se interessou pelo basquete, mas por ser menina, nem sempre tinha oportunidade de jogar nas quadras perto da sua casa. Depois de um bom tempo apenas assistindo e aprendendo do lado de fora da quadra, ela chegou um dia mais cedo que todos com uma bola na mão e falou: a bola é minha e se eu não jogar levo a bola embora. 

Isso foi um importante passo para ela poder desenvolver o seu estilo de jogo e poder se destacar no seu time do colégio. As adversárias tinham muitas dificuldade em marcar Dawn pois tinha o raciocínio rápido e uma facilidade de encontrar espaços na quadra, porque passou seus anos iniciais no basquete de “rua” (algo um pouco como aqui temos o futebol que jogamos na rua e o futsal faz com que o jogador brasileiro seja diferente). 

Depois de se destacar no colégio, ela foi jogar basquete na Universidade da Virgínia e foi um choque para a jovem atleta que cresceu em uma área da cidade com uma população basicamente negra e foi para uma escola e para um estado onde a maioria da população era branca. Isso a fez sentir como se ela não tivesse com quem conversar e que ninguém iria entender o que ela estava passando.

Dawn Staley em um jogo pela Universidade da Virginia,

Por causa do sentimento de não pertencer, ela começou a não ir bem nas suas aulas, sendo chamada para a sala da reitoria para discutir o seu caso. Nos Estados Unidos, esses atletas que jogam pelas universidades são considerados antes de qualquer coisa, alunos, e o mais importante são os estudos. Depois desse susto de quase ser expulsa da universidade por causa de suas notas baixas, ela se encontrou e conseguiu se formar e continuar sua carreira como jogadora.

Depois de uma brilhante carreira que incluiu mais de uma medalha de ouro nas olimpíadas (e uma passagem até mesmo no basquete brasileiro)  ela se aposenta e passa a atuar na linha lateral. Ela começa como técnica do time de Temple University e completamente reformula a área na instituição e conquista marcos importantes para a universidade.

Dawn Staley no banco de reservas falando com o seu time.

Ela deixa a Temple para comandar o time da Universidade da Carolina do Sul. É nessa universidade que ela tem o seu maior impacto como técnica, inclusive levando o time para um título da NCAA. Essa vitória não aconteceu do dia para a noite e uma das coisas que Dawn percebeu foi que os fãs seriam uma parte importante para o sucesso do trabalho dela. Ela pensou que as melhores jogadoras não iriam querer trabalhar tão duro para jogar para um ginásio vazio. 

O interessante desse episódio foi falar da primeira vez como os fãs seriam fundamentais para o sucesso do time. Sim o Mourinho diz que a torcida o ajudou a formar o time no sentido que ele sabia o que a torcida queria, mas Dawn fala em como é importante o torcedor estar presente e como isso é essencial para o esporte. 

Conclusão

A série é muito interessante e procura alguns dos melhores técnicos do mundo do mundo. A edição pode dar um ar um pouco mais dramático que necessário, mas de uma maneira geral é bem clara. 

O seu tempo corrido, por ser um pouco curto, não entra em muitos detalhes sobre cada regra então ter conhecimento sobre os eventos questão pode deixar tudo mais claro. Mas, para um amante de esportes é um prato cheio para entender um pouco mais sobre o que passa na cabeça de cada técnico e podemos sim aprender com eles em quesitos como liderança. 

De uma maneira geral, vale sim ver essa série!

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