Superliga da Europa: a polêmica dos milionários

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Essa semana o núcleo do futebol europeu praticamente implodiu. Em um dos anos mais complicados dos últimos tempos, 12 dos clubes mais influentes da atualidade se uniram para criar uma nova competição entre eles. 

Manchester United, Manchester City, Liverpool, Tottenham Hotspur, Chelsea, Arsenal, Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Internazionale de Milão, Milan e Juventus são os clubes que estão envolvidos nesta nova competição e são os pivôs de muitas polêmicas do final de semana. 

Um dos pontos mais discutidos é o fato que dos 20 times participando todo ano com 15 times fixos e 5 que são convidados, porém, o critério de como esses times iriam participar ainda não estava definido. Muitas informações das regras da liga não foram claramente definidas, nem mesmo quando ela iria começar.  

Não podemos dizer que o anúncio da Superliga foi uma novidade, os clubes já vem há algum tempo batendo cabeça com a UEFA para mudar o formato das competições e atender algumas das necessidades desses clubes. Um dos principais pontos que os clubes disputam com a entidade é o número de jogos disputados. 

De acordo com o formato apresentado pela Superliga, os 20 clubes seriam divididos em dois grupos de 10 e os jogos seriam disputados em turno e returno. Os três primeiros de cada grupo iriam para a fase de oitavas de final e as duas últimas vagas seriam decididas com um jogo de playoffs entre o quarto e o quinto colocado de cada grupo. 

A fase de mata-mata então é disputada em ida e volta e a final jogada em jogo único em campo neutro. Assim, cada time tem 18 jogos garantidos na temporada, podendo chegar de 23 a 25 jogos (se o finalista jogar o playoff). A Champions League hoje tem 6 jogos garantidos e o finalista joga 13 jogos no máximo. 

Outro ponto bem diferente daquele que vemos hoje na Champions é o fato que os clubes da Superliga receberiam 350 milhões de euros apenas por participarem da competição. Por outro lado, o campeão da Champions ganha até 81 milhões de euros.

Esses números são importantes se considerarmos que 2020 foi um ano horrível para os grandes clubes (na verdade foi um ano ruim para praticamente todo mundo) e que muitos desses clubes ou apresentam uma grande dívida ou indicam números insustentáveis de prejuízos. O Barcelona por exemplo possui uma dívida de 1,5 bilhão de euros, enquanto Internazionale e Juventus possuem uma dívida combinada de cerca de 800 milhões de euros. Times ingleses não escapam muito disso não, pois o Tottenham teve que pegar um empréstimo em um banco inglês para manter a sua operação. 

O conceito de ligas não é novidade para o mundo esportivo, nem para o futebol. O maior campeonato nacional de futebol no planeta, a Premier League, é uma liga e funciona de maneira independente da FA (Football Association, a federação nacional inglesa). Embora essa liga tenha uma administração separada da federação, ela ainda segue o modelo tradicional de acesso e rebaixamento de seus times, tornando-a uma liga aberta.

A liga nacional de futebol fechada mais conhecida hoje é a Major League Soccer, dos Estados Unidos. Isso significa que os times que estão na liga são fixos e não são rebaixados. Para evitar muita desigualdade muito grande entre os times, as ligas americanas criaram mecanismos como o Draft e assim dar a melhor chance para todos. Por outro lado, é complicado entrar na Liga, pois envolve um processo de aprovação com base até mesmo em qual cidade o time novo irá ficar.

Outro ponto de fricção que motivou a criação da Superliga foi o fato que os clubes estão começando a ver as organizações como algo que possui um custo muito alto. Não quer dizer necessariamente que essas organizações operam com prejuízo, mas os clubes consideram que organizações como a UEFA ficam com uma fatia muito grande das receitas em relação ao risco e trabalho que enfrentam os clubes.

Temos que analisar também que, embora o futebol seja chamado de aberto pois qualquer time pode ser campeão ou um time de uma divisão inferior pode ganhar um jogo do bicho papão do momento, podemos dizer que na verdade não é tão aberto assim. Ele pode não ser tão aberto pois se algo não estiver embaixo do guarda-chuva das confederações, ele não é válido ou será até mesmo considerado ilegal.

Mas se vemos esses pontos que apoiam a criação da Superliga europeia, um dos principais argumentos contrários à competição é o fato dos clubes serem fixos e que assim se forma uma elite do futebol. Vai contra um dos principais pilares do futebol que realmente é que todos tenham a condição de disputar um título ou jogo. Não quer dizer necessariamente que todos tenham a mesma condição financeira ou que tenham acesso às mesmas estruturas, mas que o 11 contra 11 em campo é o suficiente para igualar as condições. 

Mas todas as mudanças duraram praticamente dois dias apenas. Depois de muita revolta de fãs, jogadores, técnicos e ex-jogadores, os times ingleses foram os primeiros a desistir da Superliga. Embora parece que a Liga acabou, devemos analisar os motivos que estão levando os clubes a entrarem em conflito com as organizações.

Será que o futebol precisa de uma revolução organizacional? 

Com o influxo cada vez maior de dinheiro no futebol profissional, devemos repensar a sua base esportiva?

Quando um clube se torna mais poderoso que sua federação ou organização, quais as medidas que devem ser tomadas? Ou não devem ser tomadas e os clubes devem ter o direito de crescer o quanto tem potencial para crescer?

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